Macieira em flor

7 Maio 2024
Foto João Xavier

A minha macieira está em flor.

Passou uns meses em repouso, tardou a abrir os seus botões foliais… mas agora dá vivas à primavera e já exibe os primeiros botões florais.

É nas árvores de folha caduca que melhor percebemos os ritmos do clima e da Natureza. Por vezes, fazemos poesia, etiquetamos tristeza às marcas do outono e do inverno, beleza às da primavera e fecundidade às do verão.

A verdade é que as macieiras, como os pessegueiros, as amendoeiras e outras árvores mais sensíveis, inventaram uma estratégia de adormecimento quando o frio chega… e quando as temperaturas amenas voltam tratam de regressar anualmente à vida ativa…

Não me estragues as árvores!

28 Abril 2024

No seu Livro das Odes, Confúcio compilou mais de 300 poemas que recolheu na China.

Escolho hoje este, que exemplifica magistralmente o poder da pressão social… usando o argumento do cuidado com as árvores:

«Peço-te, bem amado, respeita a minha casinha,

Não quebres os ramos do meu salgueiro.

Não é que eu me preocupe, pela minha parte,

Mas receio provocar a cólera do meu pai.

O namorado responde, desamparado:

É preciso obedecer às ordens do pai.

Peço-te, bem amado, não saltes sobre o muro

E não partas as minhas amoreiras.

Não é que eu receie ver cair as minhas amoras,

Mas temo que o meu irmão se zangue.

O namorado responde, desamparado:

É preciso obedecer às ordens do irmão!

Peço-te, bem amado, não estragues o meu jardim,

Não partas as minhas árvores de sândalo.

Não é que eu me importe, sabes bem,

Mas receio a maledicência da cidade.

Que seria dos apaixonados,

Se os vizinhos começassem a falar?»

O controlo da sociedade sobre os indivíduos funciona no extremo Oriente de modo notório, seja na China, no Japão ou na Coreia. E o respeito pelas árvores fazia parte dos deveres de cada um…

A cevada dos ratos

14 Abril 2024
Foto João Xavier

Na primavera, florescem umas ervas gramíneas que dão nas vistas pelas espigas perfeccionistas que exibem.

Vivem geralmente em tufos, adaptam-se a terrenos áridos e colonizam orlas de caminhos.

São a cevada dos ratos. Em algumas zonas, há quem lhes chame cevada das lebres. Em qualquer das designações populares, é espelhado o petisco que disponibilizam a animais herbívoros nos nossos campos.

A cevada dos ratos é uma planta poácea de origem europeia, mas já se expandiu para a América. Os botânicos batizaram-na como hordeum murinum.

A tal espiga prolífera que atrai pela harmonia geométrica chega a atingir 12 cm de comprimento, mas a que eu criei num vaso ronda os 6 cm.

Loureiro – uma planta especial

12 Dezembro 2023

Ilustrei recentemente um trabalho sobre plantas do neolítico com uma foto de um loureiro que eu plantei. A seca de 2023 matou-me um outro.

Não sei se pela mística se pelo aroma, o loureiro é uma árvore de que eu gosto muito.

É símbolo de vitória, de louvor, de dignidade e de prosperidade.

Como disse, é uma planta autóctone na Península Ibérica, chegando alguns exemplares a atingir os 20 metros de altura. Foi o seu nome que serviu para batizar a floresta laurissilva da Madeira.

Não gosta de altitudes elevadas nem de muito frio. Floresce de fevereiro a maio e os seus pequeninos frutos ficam pretos quando amadurecem.

O maior produtor mundial de loureiro é a Turquia.

Muita gente pensa que a única utilidade do loureiro é a culinária (como condimento), mas ele fornece também óleos para sabão, um composto medicinal contra o cancro e madeira para a construção.

Releia a lenda da ninfa Dafne, que se transformou em loureiro para não ser assediada pelo deus Apolo…

O inimigo cinzento das florestas

4 Dezembro 2023

Os romanos chamavam à enxada ‘o inimigo cinzento das florestas’ e sabiam bem o que diziam.

Para deixar a vida predominantemente recoletora, o bicho homem inventou a agricultura e a pecuária.

Para as práticas agrícolas, foi então necessário roubar terreno às florestas. E por isso os romanos simbolizavam nas enxadas uma guerra contra as florestas.

Hoje em dia, quando tanto falamos em agricultura sustentável, deparamos com um problema acrescido: além do trabalho erosivo da agricultura que destrói a cobertura natural dos solos, fomos no século XX generalizando a utilização de produtos químicos que desequilibram os ecossistemas e envenenam os solos e os aquíferos.

A agricultura intensiva, que é mecanizada, criou ao planeta problemas acrescidos.

Desapareceu a força estatística da agricultura familiar, que, medianamente, minimizava os danos colaterais. E temos de saber reverter o panorama.

A própria estrutura económica da nossa sociedade está desequilibrada: o setor primário está cada vez mais reduzido em termos demográficos e a produção fica dependente de grandes proprietários que sabem gerir os preços e a escassez da mão-de-obra.

Se reduzirmos a intervenção da grande maquinaria, poderemos voltar a dar importância à enxada e aumentar o número dos empregos na agricultura. Simultaneamente, temos de reflorestar o território, maximizando os terrenos menos produtivos na agricultura, em vez de os deixarmos ao abandono.

É um problema que não se vai resolver numa geração.

As castanhas

13 Novembro 2023

«Pelo São Martinho, come castanhas e prova o vinho» – diz um provérbio português.

As castanhas são os frutos do castanheiro, uma árvore fagácea que pode chegar aos 35 metros de altura e ter uma longevidade de alguns séculos.

Dão trabalho a apanhar: nascem dentro de um invólucro espinhoso que pica os mais incautos, quando o outono as amadurece e lhes dá a cor que serve exatamente como referência para o batismo de uma cor (o castanho) entre o ruivo e o preto.

Os nossos antepassados usavam-nas como elemento importante da sua dieta, tanto pelo valor nutritivo do seu amido como pela facilidade de conservação.

Portugal já chegou a produzir cerca de 50 mil toneladas de castanhas por ano!!!

A floresta ‘em Portugal’ no neolítico

30 Outubro 2023

Consta que até há cerca de 10 mil anos Portugal tinha uma grande cobertura florestal dominada por castanheiros e carvalhos, a que os botânicos chamam fagossilva.

No sul, terão existido grandes faixas de choupos, freixos, loureiros e pereiras, entre outras árvores selvagens.

O bicho homem começou então a marcar a sedentarização com a atividade agrícola e a pastorícia que foi a pouco e pouco arrasando as florestas e deteriorando a qualidade do ar.

Em muitas zonas, os arbustos começaram a predominar onde antes havia coberto arbóreo. Foi a vez das giestas, dos tojos, das urzes e das estevas.

Há marcas de tudo isso em fósseis do neolítico, até cerca do ano 3000 aC.

As batatas Picasso

23 Junho 2023

Descobri recentemente as batatas Picasso.

Pareceu-me logo ser uma variedade interessante e não me enganei.

As batatas Picasso foram desenvolvidas na Holanda e mostraram tantas potencialidades que já são as mais cultivadas na Rússia.

Como variedade facilmente tardia, fornecem-nos abastecimento quando outras já secaram por não resistirem ao calor.

Mais resistentes a doenças virais diversas e até ao escaravelho que destrói outras batatas, as batatas Picasso são muito produtivas, mais saborosas, esfarinham menos e são de mais fácil armazenamento.

Para já, as folhas verdes escuras da minha batateira Picasso parecem indiciar um vigor e uma vitalidade que outras variedades não ostentam.

No ano em que celebramos os 50 anos da morte do genial pintor andaluz Pablo Picasso, eis uma novidade a replicar.

A árvore generosa

12 Maio 2023

As árvores são quase todas generosas… mas umas são mais generosas que outras.

Na literatura infantil, personificar uma árvore é dar-lhe sentimentos e sentido de humanidade. Foi o que aconteceu com a imaginação do escritor e artista norteamericano Shel Silverstein.

O livro chama-se precisamente «A árvore generosa» e conta-nos a vida de uma árvore e de um menino.

No final, a passagem do tempo quase nos puxa uma lágrima, mas todo o enredo nos envolve de modo sublime, com o crescimento e a decrepitude da árvore… e do menino que deixa de ser menino.

Florindo entre alcatrão e cimento

21 Abril 2023

Um lancil é, basicamente, um resguardo. É um resguardo para a circulação humana, a nível pedonal e rodoviário.

No entanto, plantas e animais podem aproveitar.

Neste caso, formigas criaram um abrigo e até uma palminha de Santa Rita fez pela vida e cresceu.

Mesmo sem chuva, floriu.

Há quem diga que o mundo é das plantas, potencialmente invasoras e facilmente reclamando espaço, por mais difícil que seja o acesso a um bocadinho de terra, entre alcatrão e cimento…